segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

KODA E A NAMORADA 3º e último capítulo

Koda foi crescendo e com ele uma curiosidade pela pequena SRD. Nosso portão tem grades estreitas para protegê-lo da rua, Mas, assim que alguém entrava, koda saia voando feito louco pela ladeira, subia, descia, latia e logo achou onde ela morava. Começou um namoro firme daqueles de ir em casa buscar pra passear.
Enquanto isso aquela gatinha chamada “mia” que a Ellen trouxe, estava morando na casa do Alex, foi crescendo também, às vezes nos visitava. Koda não a deixava em paz, então, foi adotada de vez pela família do Alex. Um dia descobriram que era macho. Foi um Deus nos acuda pra mudar o nome. Acabou chamando Jonny. Sua beleza e graça desperta ternura nas pessoas. Às vezes fica horas a olhar pela janela do apartamento vendo os pássaros nas árvores vez por outra o Dr Tuc que também tem sua história aqui aparece, sim o tucano que visita casas e prédios aqui no Tremembé e também famílias de macaquinhos que balançam nas árvores do condomínio onde moram. A janela é o lugar preferido de Jonny,muitas coisas acontecem,as árvores sempre reservam as surpresas.
Alex as vezes leva o Koda pra sua casa nos finais de semana,mas, dentro do apto com Jonny e Bordy um poodle que a Izana tem, vira uma bagunça. Koda é desajeitado e não tem um ano ainda. Destrói tudo escorregando pelo assoalho e fazendo seus xixis por tudo. Quer correr e brincar. Logo izana estressa e lá vai o Alex pela ladeira de volta com o ruivinho.
Cansados das suas fugas trancamos o portão da imobiliária com chave, evitaria as escapadas. Dia desses Koda se pos na janela Logo sumiu da sala.Muito silêncio...
Estranhamos a ausência dele. Olhamos da sacada. Eis que surge com todo seu charme a pequena SRD chamando pelo ruivinho que totalmente enamorado não mediu esforços.

Desesperado ele se arriscou na grade estreita. Entalou.
Esforçou-se tanto e como por encanto seus ossos viraram borrachas.
Mais um pouco, com certeza nem sentiu a dor, tamanha paixão.
Ela valia a pena.Definitivamente ele não resistia aquela cadelinha. Lembrei-me das paixões instintivas que nós humanos também vivemos.
Não medimos distância, não vemos feiúra, apenas o desejo ardente de estar com aquela pessoa o máximo de tempo.Koda definitivamente estava de quatro por ela.
Ganhavam a rua sem se preocuparem com perigo, queriam brincar, beijar...Aquelas mordidelas de amor e lambidas que só os apaixonados sabem o que é.
Todos os dias o trancávamos e ela aparecia no portão como num passe de mágica. Essa história se repetiatodos os dias.O romance ganhava lá suas proporções gigantescas.Ele também entalava diariamente,o mesmo movimento,o mesmo entusiasmo. Saiam para passear e era bonito olhar as brincadeiras.No final da tarde a dona da SRD chegava e a trancava pra dentro também. Ele vinha pra casa morto de sede e cansado demais. Tomava muita água no balde, sacodia, mergulhava a cabeça como que a esfriar a saudades que ela deixava em seu coração.
Deitava um pouco no chão frio para se refrescar e dormia. Sua pata pulava involuntariamente e às vezes chorava, podia jurar que ele estava sonhando com ela.
Koda foi ficando conhecido na vizinhança, as vezes ia a feira lá embaixo na praça, muita gente o via perdido e o trazia de volta com meio metro de língua pra fora.
Ele já conhecia todo mundo que passava na rua, mexiam com ele, o danado abanava o rabo.Fazia festa e sempre ganhava um afago,depois ficava girando e latindo pra que abrissem o portão e ele pudesse ir junto. Poderia ser político se fosse gente. Um carisma! Na verdade ele é assim.Uma graça!Começamos a dar falta da cadelinha e peguntamos a vizinhança que passeia com seus cães pela rua.
Viemos, a saber, que a namoradinha estava com a pata quebrada. Foi atropelada também. Lembramos do atropelamento do Koda e ficamos com pena dela.
Nas escapadas dele já sabíamos que ele ia visitá-la, afinal namoros, casamentos, são na alegria e na tristeza também. Ele na sua maneira moleque de ser, era um gentleman.
Koda foi ficando mais terrível e levado, mais fujão do que nunca, corria por tudo como se buscasse alguma coisa. Ficava imundo. O Alex tinha que dar banho de mangueira lá fora mesmo.Revoltado! Ficamos sabendo que a cachorrinha sarou e a levaram embora para um sítio. Estava explicado então. Às vezes as coisas não tem o final que desejamos e com ele não foi diferente, muito cedo teve que sentir a ausência, o vazio que a namorada deixou. Seu bem querer.
O Alex arrumou uma imensa rede de ferro bem forte e ela foi colocada em toda extensão do portão. Ele late, pula, vem ali dentro nos chamar pra abrir o portão. Tudo em vão. Estamos firmes. Arrasado ele se deita e chora, no final da tarde colocam a guia nele pra passear e ele logo corre lá pra onde ela morava, mas, quando vê aquele vazio continua seu passeio como se não entendesse porque ela se foi. Assim como nos humanos tão racionais não entendemos o porque alguém partiu da nossa vida. Koda um SRD ruivinho e danado,tão irracional e instintivo me parece que não a esqueceu.
Fica aqui registrada uma história de amor animal. Koda fará um ano este mes. Já escrevi para o Dr Pet pra ver se conseguimos fazer com que nos obedeça.
O nosso ruivinho não tem um "pingo" de educação,mas, é só o que falta pra ele; porque amor... Ele tem de sobra e sabe como ninguém demonstrar. Quando chegamos pela manhã na imobiliária ele faz uma festa tão grande que só conseguimos pará-lo se tivermos um ossinho nas mãos.Caso contrário...Seu amor é tão grande que nos leva ao chão!

Elaine Barnes
28/12/09

terça-feira, 10 de novembro de 2009

2ºcapítulo- Koda em: O Retorno

Naquele dia que o Koda se foi, Ellen arrumou uma gatinha para alegrar o Alex que escolheu o nome de Mia para ela. Uma graça! Fui já comprar as coisas no pet shop e fazíamos bolinhas de papel pra vê-la brincar, distrair-nos um pouco. Linda de viver! Pretinha com uma manchinha embaixo da boca e bigodes brancos.
No dia seguinte, Alex vinha com Mia no carro para passar o dia na imobiliária, assim que chegou, quando ia fechar o portão... Percebeu um ruivinho de língua pra fora descendo a ladeira.
Lá vinha Koda correndo! Entrou junto direto para a imobiliária fazendo festinhas e já querendo beijar a Mia afobado. Não sabia pra que lado ia, tamanha euforia.
Fugiu do seu verdadeiro dono de novo! Cheguei e recebi a mesma festa maluca e desesperada em mim. Estava faminto. Apreensivos Alex e eu cuidamos dele, demos carinho, mas, já tentando não mimar mais, pois já sabíamos seu endereço e que ele iria embora outra vez. Ao ver a Ellen já correu com o cobertor e a garrafa pet, brincadeira que mais gostava.
Ela,Izana e Daisy ficaram muito felizes aceitando sua volta e as brincadeiras dele. Enquanto falávamos do retorno, ele pegou a bolinha para recebê-la no meio do quintal e trazê-la de volta trancando a boca, provocando. Brincou com Mia que logo se acostumou com o gigante carinhoso.Toda arrepiada,mas,o aceitou. Nossos dias foram novamente atormentados pelo filhote. À tarde o Alex o colocava no carro e o levava de volta a seu dono.
Pela manhã lá vinha Koda descendo a ladeira correndo para sua outra casa. Não era nosso, nem do dono. Koda não era de ninguém, ao mesmo tempo em que era de todos. Filho do mundo!

Nos dias que se seguiram aos poucos ele foi destruindo o que decidia, qualquer novidade, a mínima que fosse, uma simples caneta, pulava nas nossas mãos, pegava e corria, depois todas do porta canetas, papéis, fios...Um terror!
Quando cansado subia na mesa e dormia. Ficávamos com pena de acordá-lo; bem, na verdade eram poucos minutos de sossego. Um anjo dormindo. O que será que sonhava? Talvez com a gente, com Mia, sua outra casa...Nunca saberemos. Acredito que os animais nos escolhem e Koda talvez tenha escolhido a família errada e deu um jeitinho de ser aceito por nós. Nunca havíamos pensado em uma Mascote. O dono verdadeiro talvez quisesse um cão de guarda preso, protetor da casa, bravo...Koda era Malandro. Fujão!
Quando o Alex o levava de volta ao dono, dávamos um jeito na bagunça que ficava.
Pela manhã entrava todo alegre e às vêzes sentava-se como um corretor de imóveis para nos observar e saber em quem iria pular chamando pra brincar.
Lucas filho do Alex e Izana adorava brincar com ele, pulava desengonçado, pois crescia a cada dia. Eu o comparava aquelas crianças que eram novinhas e enormes na altura e ficavam por último na fila da escola, sempre mais cobrados e incompreendidos. Lucas tão pequeno e Koda tão grande, eram crianças. A vida só os queria brincando e se divertindo. Para nós um alívio! Enquanto brincavam lá fora atendíamos nossos clientes e esse tempo era aproveitado para engordarmos nossa agenda.
Penso nos cachorros com tanto carinho, seres dependentes que só querem alguém para alimentá-los e em troca dão fidelidade, amor incondicional, nos amam mesmo depois que brigamos e damos castigo para educá-los. Companheiros da solidão de tantas pessoas, amigos de verdade! Sempre nos dão uma bela recepção quando chegamos em casa com qualquer tipo humor. São como crianças e tem a mesma necessidade de atenção e amor. Sentem solidão também como a gente e as vêzes fazem de um osso sua companhia quando não tem ninguém para brincar.
Koda não tinha medo de garrafas batidas ao chão para que parasse, esguichinhos de água no focinho, nem Dr Pet daria jeito! Ríamos da nossa incompetência na sua educação.

Um dia Koda não apareceu pela manhã. Acreditamos que o dono devia ter comprado uma coleira com guia e o prendido em algum lugar.
Senti um desconforto estranho e Alex também. Devia ser a falta daquele malandro pulando em tudo, agarrando nossos sapatos, puxando as roupas, subindo na mesa, sentando na cadeira e olhando o que fazíamos como a imitar nossos gestos, chegava a olhar virando a cabeça como que a entender o que fazíamos ou a pensar qual seria a próxima arte.
Izana e eu estávamos nos preparávamos para sair, quando ouvimos uma agitação lá fora. Pessoas alteradas da rua foram parando e chamando por nós. Gelei! Alex saiu primeiro. Izana e eu depois. Koda foi atropelado.
Alex no meio do asfalto sentado na rua com o cão. Juntou um monte de gente.

Quando cheguei até ele com as pernas bambas o vi em choque. Havia sangue na boca e nas patas. Koda não se mexia. Os olhos parados no vazio. Todo mundo falando ao mesmo tempo. Olhei para o Alex; seus lábios perderam a cor. Não levantava do chão, não saia do lado do cãozinho igualmente em choque. Literalmente ele não sabia o que fazer!
Em segundos passou um filme em minha cabeça e a dor do Alex fazia com esquecesse da minha. O sofrimento estampado em seu rosto fazendo carinhos no cachorro ,ficaram gravados, podia ler seus pensamentos pedindo que Koda não o deixasse.
Longos segundos onde a vida frágil se deitava no asfalto cenário de suas fugas tão alegres.
Carros foram parando. Cheguei mais perto e me abaixei , vi que os dentes do Koda estavam quebrados, a pata machucada e disse:
-"Fique calmo Alex, ele não vai morrer! Só bateu a boca e se protegeu com a pata, ele não vai morrer! "
Senti um alívio, quando constatei que não era tão grave, a não ser que tivesse machucado por dentro. A Ellen voltava de uma visita com o cliente e vendo o tumulto, parou abriu a porta e conseguiu que colocassem o cão no banco com Alex . Saiu correndo para o veterinário.
Eu e Izana saímos para o compromisso chorando, na volta já passei na farmácia e comprei arnica. Foi tratado, e medicado ,nada tão grave, apenas alguns cuidados e ficaria bom.
Aliviados ao ver o sorriso do Alex voltamos ao trabalho comentando que o dono agora havia perdido o cão. Não o devolveriamos mesmo!
Nessa noite, mimado Koda foi dormir no apto deles . Mia o cheirava arrepiada, mesmo machucado brincou com ela, renascido,bebeu água e comeu.
No dia seguinte Koda já estava de volta na imobiliária, banguela dos dentes da frente e comendo naturalmente como se o acidente não tivesse sido com ele.
Com testemunhas a nosso favor, o "dono" não poderia mais reclamá-lo, todos os vizinhos acharam por bem que ele ficasse conosco. Aqueles momentos dolorosos de todos nós foram apagados com o portão fechado. Dali para dentro garrafas pets eram roladas pra lá e pra cá, fazendo um barulho enorme...
As lambidas barulhentas na vasilha dágua... E nossos bolsos vazios agora eram cheios de ração. Quando o telefone tocava, ele ganhava uma, duas três...Pra ficar quieto e nos deixar trabalhar. Comecei a tentar educá-lo ensinando a sentar e deitar. Ganhava o prêmio e ficava esperando mais, ainda mastigando.
Koda cresceu mas ainda e ama a todos nós. Aprendeu a abrir o portão e esqueceu do acidente, pois, ganha a rua quando uma pequena SRD aparece e joga um charme que ele não aguenta.

(Aguardem o terceiro e último capítulo. Koda e sua namorada.)

Elaine Barnes 10/11/09 Texto sujeito a correção

domingo, 1 de novembro de 2009

KODA 1º capítulo

Era um dia normal na imobiliária recém aberta.
Mudamos para uma rua inclinada, pra não dizer ladeira; apenas um carro ou outro passa calando o canto dos pássaros. Muito verde e flores.
As casas ao redor são bonitas e em quase todas elas tem cães de diversas raças.
Aos poucos fomos conhecendo cada um passando pelos portões.
Na rua ainda tem os vira-latas que andam livres causando inveja nos que moram pra dentro dos quintais. Uma provocação só!
Uma das vizinhas que passeia sempre com seu cachorro por ali, assim como dezenas de moradores, avisou a Ellen corretora da imobiliária que havia um pequenino SRD (sem raça definida) perdido. Pediu a ela que encontrasse um lar para ele, pois, não teria condições de cuidá-lo. Já tinha os dela.
O pequeno estava perdido, faminto e ficou alegre pelos mimos ali recebidos.
Alex o dono da imobiliária vinha chegando quando viu a Ellen com o pequenino no colo.
Já chegou agradando, passando a mão na cabeça dele enquanto ouvia a história do abandono. Não preciso falar o que se seguiu depois não é? Amor à primeira vista! Alex ficou com o SRD filhotinho, pequenininho, loirinho, sem rabinho e com as orelhas em pé. Parecido com o ursinho do desenho animado da tv que tem as orelhas peludas e erguidas...Recebeu o mesmo nome dele. Koda.
Foi uma agitação! Cobertor apareceu, lata de água, ração...Mimos, carinho... Koda tomou conta da imobiliária. Assim como um bebê quando chega na casa da gente. Tudo vira de ponta cabeça! Como todo bom filhote, mordia, brincava e sujava. Só parava quando exausto, pra descansar um pouquinho,mas,as orelhas sempre em pé.
As paradinhas em suas corridas eram breves, num instante as orelhas já erguiam atentas a tudo que poderia fazer, a qualquer oportunidade de brincar mais ainda. Os dias correndo e a gente atrás dele pela casa. Um mutirão era feito logo pela manhã para limpar tudo.
Com pena por deixá-lo sozinho à noite, o Alex deixava ele solto lá dentro e com a luz da cozinha acesa. Ah, não tenha dúvidas, como um pintinho na engorda, comia a noite toda. Quando acabava a ração ia comendo telefone, papéis, canetas... Tudo que encontrava.
O prejuízo e a bagunça já apareciam visivelmente. Seu olhar era caramelo e parecia maquiado de Kajal em toda volta como de um indiano. Olhar interessado a qualquer novidade, a qualquer simples sacolinha que trazíamos. Tudo era dele, assim julgava. Inclusive nós.
Apareceram bolinhas, brinquedos, ossinhos e tropeçávamos em tudo.
Os varais cheios de panos, balde, desinfetante...Nada chegava. Para o Koda tudo era pouco! Comia as bacias de ração, pote de água,arrastava os panos, mordia nossos pés, rasgava nossa roupas, sapatos e atendíamos os clientes ao telefone puxando a perna da boca dele, éramos literalmente arrastados. Não obedecia, fazia cara de " Estão falando comigo?"
Depois de um mês de toda essa confusão misturada na alegria de tê-lo conosco, aconteceu o inesperado. O dono verdadeiro apareceu. Reclamou que ele tinha fugido de casa. Tinha um dono.
Diante do olhar triste do Alex e meu, depois de nos deixar o endereço. Eu queria saber para onde iria levá-lo para saber se era verdade mesmo. Nos disse que seu nome era "Malandro" porque fugia sempre.
O rapaz colocou Koda no banco da moto e o levou. Ficamos olhando suas orelhas em pé ao vento subindo a ladeira e aos poucos sumindo da nossa visão.
Entramos na imobiliária mudos. O pessoal foi chegando e sentindo a falta do escândalo na entrada. Izana esposa do Alex já foi perguntando: Cadê o Koda? Começou a chorar. Depois a Daisy, mãe da Izana, Hellen...Com a resposta a tristeza foi chegando. Já fazia um mês que ele estava na imobiliária, era o nosso mal educado mascote, mas era também um bom filhote. Inconsoláveis evitamos falar no assunto. Cada um foi se guardando no silêncio e voltando ao trabalho sem o Koda em nossos pés e sem seus pulos desesperados.
O dia não foi o mesmo, até o sol desapareceu.
A noite seria longa. E a imagem dele no quintal olhando pra gente lá dentro. Como a observar se estava dando Ibope, ficou gravada na mente da saudade.
No coração uma dor, um amor puro, de graça que agora sem graça e sem consolo, chorava a falta daquele Malandro danado. Ladrão de sorrisos , gratidão sem palavras.


Elaine Barnes (Em breve 2º capítulo)

1/10/09

sábado, 10 de outubro de 2009

Petróleo, um Negro Gato muito Especial

Uma família de cinco gatos apareceu no quintal da nossa clínica. Foram chegando com medo, mas, decididos a aproveitar o ambiente ensolarado e os telhados baixos por onde poderiam sair quando bem entendessem.
Todos os dias nos visitavam e é claro que começamos a alimentá-los. Vinham comer quando não havia ninguém por perto e ao entardecer partiam livres.
Com o passar do tempo um deles foi entrando na cozinha devagar e logo percebeu que foi aceito. Recebeu o nome de Petróleo. Negro de olhos verdes expressivos foi andando devagarzinho para conhecer a casa. Passou a vir pedir comida com miados baixos e delicados.
Acostumou-se a ficar dormindo na recepção e onde pudesse ter sossego para proteger-se do frio ou refrescar-se no calor.
Todo mundo se afeiçoou a ele.
Percebemos sua função terapêutica. Nossos clientes que muitas vezes chegavam estressados da rua, logo se acalmavam ao acarinhá-lo. Petróleo se acostumou a essa troca de afeto e convidou sua mãe a participar desse ambiente seguro e acolhedor. Da mesma forma ela foi entrando de mansinho e miando baixinho. Um pouco mais assustada. Linda a gata peluda e tigrada recebeu o nome de Tigreza e muito em breve seu caminhar delicado foi invadindo nosso caminho. Segurava nossas pernas no corredor e mostrava a barriga para ser coçada. Mais tarde banhava o Petróleo em lambidas e este correspondia devolvendo com carinho fechando os olhos de prazer.
A cena dali a pouco mudava para bofetadas e mordidas. Uma correria pela casa. Os tapetes ganhavam vida e se movimentavam entre esses tapas e beijos.
Num instante Petróleo e Tigreza tornaram-se as mascotes da clínica.
Bem íntimo na casa Petróleo começou a ficar “intelectual”; assistia às aulas de italiano, fazia terapia em grupo, aula de teatro, dança do ventre e logo as atividades da casa eram mais uma fonte de carinho.
Diferente, Tigreza gostava mais de entrar no armário onde sua comida estava, e de estar no meio dos expectadores a rolar pra lá e pra cá, brincando de se esconder nos tapetes e correr atrás do meigo e nobre Petróleo. Aquele belíssimo negro parecia causar-lhe inveja, então, ela fez uma amizade empolgante com o psicanalista. O cliente entrava na sala dele e ela também. Só havia um probleminha: ela é clausfóbica. Não pode ficar em ambientes fechados. Então mia para sair, sem querer impedir que façam sua terapia, porém... De porta aberta. Espera calmamente e assim que ele sai, agarra a perna dele e rola no chão. Sabe que isso dá “ibope”.
Petróleo seu inseparável companheiro sempre pagou o “pato” de sua revolta.Tiramos muitas fotos de suas brigas e “loves”.
De manhã os dois vinham tomar seu café acompanhado dos outros irmãos, filhos da Tigreza. Boquita um machinho tigrado de cara miúda com boquinha branca foi convidado a conhecer a casa por Petróleo. Ficamos parados para que não se assustasse, enquanto o anfitrião ia mostrando o caminho da sala. O “cara de pau” parecia dizer:
- Entre, a casa é nossa! O efeito terapêutico em todos foi maravilhoso. Demonstrações de afeto, emoções e histórias cheias de lembranças foram inspiradas pelos gatos.
Agora; a história deles para nós era um mistério. Sabíamos que uma senhora os alimentava diariamente na casa ao lado que estava vazia, mas, quando chegávamos à comida já estava lá. Quem seria ela?

Petróleo já se aninhava no colo e aceitava nosso carinho e a Tigreza, mesmo sem gostar de colo, demonstrava seu interesse com miados e a exposição de sua enorme barriga sem nenhum constrangimento, para se exibir às pessoas.
Durante cinco meses convivemos assim, nos respeitando, até que numa sexta-feira triste de primavera o Petróleo sumiu. Exatamente em vinte sete de setembro. Esperamos por ele durante três dias.
Depois anunciei na internet, mas ele não tinha registro e aí, um gato preto comum... Ficou difícil.
Fantasias e histórias passaram a circular pela clínica, todo mundo perguntava por ele e logo vinha à tristeza e mais questionamento.
Todo o dia eu chegava com a esperança de encontrá-lo tomando sol com os outros. A Tigreza sentiu muita a falta dele e passou a acariciar o Boquita, mas não era a mesma coisa. Sozinha ela começou a tomar conta da casa tentando preencher o vazio que o nosso mascote deixou.
Dando asas a imaginação, começamos a acreditar que ele foi vítima de algum ritual macabro. Afastávamos o pensamento para não sofrermos mais.
A vida foi seguindo sem Petróleo que ainda era o assunto já passados vinte dias; até que recebi um telefonema onde me informaram que a senhora que dava comida a eles, deixou ordem para minha funcionária da manhã que capturasse os gatos porque ela iria levá-los na sexta-feira logo cedo. Deixou até uma enorme casinha.Uma ousadia! Nem se quer ouviu que cuidávamos deles.
Entre muitos telefonemas e conversas finalmente descobrimos que o Petróleo fora levado por ela. Um pânico nos invadiu:
- Será que ela os colecionava para vendê-los a rituais?
Traçamos um plano para descobrir quem ela era e resgatar o Petróleo se ainda estivesse vivo.
Tínhamos dois dias. Fizemos coleiras com improvisadas plaquetas, mas, só conseguimos colocar na Tigreza e no Boquita. Minha amiga não saía do telefone procurando quem pudesse nos ajudar com os registros e eu da internet procurando protetoras de animais e veterinários que pudessem vir aqui. Um caso de novela.
Não conseguíamos dormir. Como poderíamos perdê-los assim?
Lembrava-me do meu poodle que havia sumido sem registro, sem nenhuma identificação e eu ainda não o tinha de volta por conta disso. Uma dor seguida de imaginações me levava mais do que nunca não deixá-los ir sem saber pra onde e com quem.
Não suportaria. Combinamos estarmos na clínica sexta de manhã e fazermos àquela senhora entrar e nos explicar tudo. Arrumamos o gravador e máquina fotográfica. Pediríamos que preenchesse um cadastro e se ele estivesse vivo iríamos buscá-lo onde estivesse.
As informações chegaram. O Petróleo estava vivo!
Disseram que estava em um sítio. Aliviadas decidimos que iríamos descobrir o endereço.
Outra informação chegou, ele havia sido mordido por um cão.
Ficamos em dúvida novamente. A senhora que era conhecida no bairro por alimentar os animais, hora falava que era do bairro, hora que era de muito longe. Sendo assim porque viria alimentá-los ali? Um mistério. A sexta feira chegou e ela veio no horário que havia marcado. Um pouco resistente se apresentou e eu tentei da melhor maneira possível respeitá-la e saber o que realmente fazia com os gatos. A máquina e o gravador ficaram na cozinha. Consegui que me desse seu endereço e ela de pronto atendeu. Morava na rua de trás e uma história triste começou a se desenrolar quando minha amiga chegou. Descobrimos que se tratava de uma humilde senhora que tirava de si para dar aos animais de rua. Comecei a entender que havia um desequilíbrio em tudo, mas, o que me interessava naquele momento era ter o Petróleo de volta.
A senhora disse que ele estava praticamente ao nosso lado, na mesma rua. Deu-me o nome e telefone da outra senhora que estava com ele e avisou-me que seria difícil ela devolvê-lo, pois ele havia sido mordido por um cão e assim levado ao veterinário para ser medicado e castrado. Adiantou que a pessoa tinha um gênio difícil e que precisaria falar com ela antes.
Mil coisas passavam por minha cabeça e tentando manter o controle, disse-lhe que o gato era nosso e que ela iria devolver sim. Ficou de voltar à noite para levar-nos lá.

O dia foi seguindo tenso. Com o mistério que ainda pairava no ar. Será que ele ainda estava vivo? Será que o substituiriam por outro gato preto? Estava num sítio ou ali?
Embora tenhamos acreditado em quase tudo, sentia-me culpada por ter pensado mal daquela senhora sofrida.
A noite parecia se esconder e preguiçosa não chegava nunca. Nossa energia parecia esgotada e sentíamos o peso da responsabilidade dos nossos atos.
Quase vinte horas quando finalmente ela chegou. Ufa!
Minha amiga, eu e a senhora franzina fomos de carro até lá. No hall do prédio percebemos um código entre a senhora sofrida e o zelador. Falavam por olhares apavorados. O zelador nos abriu o elevador rapidamente, mas, com um sorriso de dever cumprido.
O cheiro misturado com desinfetante ultrapassava a porta do apartamento. Assim que apertou a campainha uma senhora oriental apareceu. Fomos entrando com a casinha entre os olhares inexpressivos e cansados das duas protetoras. Minha amiga e eu ficamos paradas e a porta imediatamente foi fechada atrás de nós. De repente a sala antes vazia foi sendo invadida por gatos que vinham de todos os cômodos. Parecia que estávamos entrando na cena de um filme. Como fosse aquele momento irreal, como fosse imaginação... Como fosse uma triste história de clausura.
Petróleo aproximou-se e abaixei-me para que cheirasse minha mão; assim que me reconheceu os gatos invadiram e ele se perdeu no meio de tantos. Logo tinha uns vinte e cinco ou trinta gatos na sala. Lindos e maravilhosos. Em choque, por um momento o perdi e me apavorei com medo de levar gato errado. Minha amiga tentava conversar naturalmente com elas enquanto eu passava a mão nos pretos idênticos a ele para tentar encontrar diferenças.
Persas, Angorás e SRDS encantadores tomavam toda a cena.
A casinha que levamos caiu da cadeira o barulho os assustou e sumiram. As senhoras entreolharam-se nos recriminando pela falta de cuidado. Devagar eles começaram a voltar para sala. Passei a mão num gato preto e respirei aliviada por ele ter o rabo defeituoso. Uma outra deitada sobre um buffé era fêmea, e assim mais uma vez Petróleo se aproximou com um olhar agradecido por eu estar ali. Dentro daquela viagem percebemos que a senhora oriental não queria doá-los. Eles faziam parte de seus instintos aprisionados. Eram como uma coleção de selos ou moedas raras. Ela os amava como uma extensão de si mesma e acreditava realmente que os estava ajudando. Nos pediu que não contássemos a ninguém, pois, já havia sido processada.
Começamos a sufocar ao imaginar que os lindos bichanos estariam aprisionados para sempre com ela em um apartamento. Numa vontade louca de libertá-los, colocamos Petróleo dentro da casinha, quando ela olhou pra ele triste, como se estivéssemos arrancando parte dela e disse:
- Viu, você ficava na janela querendo me deixar... Agora você vai. Era isso que queria, não? Então pode ir.
Olhei pra ela com ternura e entendi o que sentia.
Chegamos na clínica onde éramos esperadas. Abrimos a portinhola e ele olhou direto para o chão reconhecendo o tapete onde deitava e brincava com a Tigreza, sua felicidade ficou estampada nas cadeiras, nas mesas e em todos os cômodos que fez questão de entrar e roçar os bigodes.
Olhava tudo devagar como se quisesse que aquele momento durasse para sempre. Acarinhou as pessoas e abrimos a porta da cozinha onde a claustrofóbica Tigreza miava desesperada para entrar. O encontro foi fotografado. Um beijo carinhoso entre mãe e filho é sempre bonito. Mesmo sabendo que os animais esquecem esses vínculos, aquele momento foi especial para todos nós.
Era como se tivéssemos também encontrando a liberdade de simplesmente estar onde queremos. Emocionados fomos atrás dos dois. Tigreza o levou para a sala do psicanalista, seu lugar preferido. Deitou-se e esperou ser acariciada. Petróleo lavou-lhe toda a carinha e ela de olhos fechados levantou ainda o pescoço para que o banho fosse completo. O negro gato mal havia terminado e já levou um tapa daqueles pra aprender a não se aproximar de cães bravos; e tudo recomeçou...
Fomos embora acreditando que ele estaria ali no dia seguinte.
As informações de uma protetora de animais consciente chegaram até mim. Não basta alimentar os animais na rua, é preciso vaciná-los, registrá-los e castrá-los, porque uma cadela não castrada gerará através de seus descendentes, cerca de sessenta mil filhotes em apenas seis anos; quanto aos gatos, este número salta para quatrocentos e vinte mil novos animais. Cadelas se reproduzem a cada seis meses e gatas a cada três.
Simbolicamente o gato representa o feminino e o cão o masculino. Trabalhando há alguns anos na clínica de psicologia, aprendi um pouco sobre a força do símbolo e não gostaria de castrar um animal, mas, diante da morte deles nas ruas, sacrifícios e maus tratos,
Entendi com pessoas como ela, que somos responsáveis por tudo isso. Assim como à senhora oriental está aprisionada com o seu feminino, é preciso que nós o libertemos com a consciência do que eles representam pra cada um.

Agora adotamos de verdade os cinco felinos. Somos responsáveis por eles. Foi preciso que o Petróleo nos ensinasse que o amor implica em atitude e responsabilidade. Nunca iremos prendê-los!
E olhando os cinco felinos tomando seu banho de sol no quintal, lembro-me dos Saltimbancos:
- “Nós gatos já nascemos pobres, porém, já nascemos livres...”
----------------------------
Elaine Barnes
20/10/2002

Nota: Essa história foi enviada para revista "Pulo do Gato" pela presidente do MICA ,Sra Maria José e publicada na edição 13 no final de 2002. Para eu postar aqui, sinto informar que as fotos deles ficaram na clínica que hoje não é mais minha. As fotos usadas aqui são de animais muito parecidos tiradas do site "Olhares". Logo depois que sai de lá, fiquei sabendo que a Tigreza morreu, chorei demais! O Petróleo ainda está vivo e a pouco tive notícias que ele abandonou a clínica. Para mim, foram momentos de troca de amor inesquecíveis. Os amo no coração.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Um Pacto de Amor

Na foto minha filha Michelle com o Flic

Nas minhas andanças procurando meu poodle toy desaparecido em setembro de 2002, um veterinário me ligou (eu havia anexado oitenta folhas de "procura-se" em dezenas de estabelecimentos), ele dizia que haviam encontrado um poodle na rua Pedro Doll e que estava na rua de cima ao lado da clínica.
Fui correndo e subi as escadas daquela casa com o coração na boca.
Quando a senhora que o encontrou abriu a porta, viu meus olhos encherem de lágrimas.
Não era o meu velhinho Jow. Mesmo assim o peguei no colo, como para que sentir o calor de um cãozinho novamente. Ele se aninhou como que querendo que eu aproveitasse ao máximo aquele momento.
Ouvi toda história dele com atenção. A adorável senhora pediu que eu ficasse com ele, pois o levariam para uma chácara e ficaria com caseiros se eu não o adotasse.


Senti uma mistura de medo com traição. Era como se eu tivesse traindo o Jow.
Pedi umas horas pra pensar. Ela me explicou que não poderia ficar com ele, pois tinha mais três cães ciumentos, por isso já tinha combinado com uma cliente do salão de beleza dela pra levá-lo no dia seguinte para a chácara.
Eram 21:00h, peguei o carro e sai para pensar, os flashs dos faróis passavam por mim como partes de um filme que rodava em minha mente. Queria tanto que ele fosse o Jow!

Ao mesmo tempo a preocupação com a família. Será que o aceitariam? Por quê eu? Por que dez anos depois a história se repetia?
O Jow foi encontrado por uma mulher que nos ofereceu. Ouve na época da minha parte, a mesma resistência que sentia agora Ele tinha a mesma idade, aproximadamente dois anos e meio na época. Pensava eu que as coincidências não existem. Tudo tem um porque.

Voltei pra casa e coloquei a situação. Minhas filhas concordaram de pronto e pediram que eu fosse buscá-lo. A saudades do Jow era demais, doía em todas nós.
Fizemos então um pacto com o universo: “Ele nos devolveria o Jow e eu faria o possível pra reencontrar o dono deste cãozinho tão assustado”. O dono verdadeiro dele deveria estar como eu. Desesperado!
Ele entrou na minha casa e correu feito louco querendo ir embora, fugir dali. Imaginei o meu velhinho assim, aflito querendo voltar pra casa, voltar pra mim .
Minha angústia aumentou.
No dia seguinte comecei a romaria para encontrar seu dono. Fiz panfletos, anunciei nos sites, fui na Pedro Doll com ele pra ver se entrava em alguma casa, anunciei em jornais e nada.

O tempo foi passando. Ele chegou no dia 30/10/2002 e por um bom tempo ficou sem nome.
As semelhanças eram muitas e as diferenças também. As comparações foram se tornando frequentes à medida que o tempo caminhava. Podia ver no seu olhar a mesma busca de afeto, o mesmo carinho pra oferecer. A mesma fidelidade e disposição pra amar independente de qualquer situação. Os mesmos gestos abertos de ternura. Na verdade ele era a imagem viva do Jow em nosso coração. O caozinho era esperto e dinâmico, engraçado demais! O Jow era mais calmo e sobão,rs...Ainda sentíamos como que traindo o nosso velhinho se déssemos um nome pra ele . O medo de ama-lo nos traria mais dor o vendo partir também.
O jovem cãozinho muito parecido nunca encontrou seu antigo dono.

Demos a ele o nome de Flic.
Continuei desesperadamente procurando meu Jow, mas, acho que ele gostaria de ter esse jovem companheiro e amigo na casa. Flic jamais substituirá o velhinho, mas, como o amor é eterno e abundante demos a ele também, tínhamos amor de sobra.
Sua adoção nos fez sorrir novamente. Inteligente , demonstrou personalidade própria , aprendeu a “dançar” em três dias e a andar em pulinhos em pezinho fazendo um “cirquinho”.
Dá-me bom dia todos os dias com várias lambidas nas orelhas e me acompanha pela casa alegre por ter um novo lar.
Expressa em seu olhar gratidão.
Tudo aconteceu em vinte e quatro dias desde o desaparecimento do velhinho.

Apesar da minha saudade e intensa dor, espero que a pessoa que o pegou cuide e ame aquele doce velhinho como eu cuido desse jovem “rapazinho”, até que o universo tenha tempo pra colocar cada coisa no seu lugar e avaliar meu pacto de amor.
A natureza é sábia e tenho muito a aprender com ela. Nascemos e morremos todos os dias para que a nossa história se renove e possamos aprender a expressar emoções que tentamos esconder de nós mesmos, para fingir que não sofremos, então ,ela nos tira o que amamos não por mal, mas, para que aprendamos a não morrer em vão. A renascer no amor. Obrigada Jow, Flic, natureza, amigos, saudades, amor, tristeza, alegria...

Elaine Barnes 13/10/2002
Na foto minha filha Monique com Flic e Raj Annanda Ganesha(meu gato com um olho amarelo e outro azul)

Nota da autora: Hoje sete anos depois, sei que ele (era cardíaco)não vive mais a não ser no meu coração. O meu pacto de amor não me devolveu o Jow,mas, fez o meu amor amadurecer e se tornar mais abundante. O Flic tb está velhinho já com uns nove anos e meio proximadamente. Ainda dança e faz cirquinho quando chego em casa e me ama muito. Somos ambos muito gratos um ao outro. Ainda tem os poeminhas dele que logo postarei aqui. O universo fez um pacto comigo levou meu amigo e me trouxe a gratidão.

Elaine Barnes 5/10/2009

domingo, 4 de outubro de 2009


A Busca do meu Bicho

Perco meu bicho e esqueço o processo.
Esqueço de respirar e puxo o ar.
Perdi a alegria e esqueci o resto.
Encontrei a mim numa lágrima a esperar

Perco meu bicho e o afeto
Onde será esse lugar?
A busca é um manifesto,
De que perder, é se encontrar?

Se procurar meu bicho é o certo,
Não sei mais onde procurar
Espero um sinal, um gesto...
Pra que eu possa descansar

Não sei o que deseja o universo.
Só sei que os bichos sabem falar,
O meu ensinou-me que no inverso,
O silêncio faz meu grito calar.

Um momento nas linhas desse verso!
Meus bichos estão soltos no ar...
Posso ouvi-los inquietos...
E uma só alma a chorar!

Aprender...Aprender é um processo,
Onde a busca é se encontrar
Desapegar... Perder... É indigesto.
Não saber é sofrer e esperar.

5/10/2002



Porque ele é...”Jowtromundo”

Apaixonante e apaixonado. Doce e sossegado...Não era muito de brincar, mas...De encantar.
Seu jeito meigo de ser, tão especial, fazia que eu pensasse sobre os santos.
Se cachorro pudesse virar santo, ah...O Jow seria!
Se bem que...Talvez não. Ele sempre perdia a compostura se visse outro cão.
Os instintos apareciam e ele se transformava em um selvagem. É. Não via cor, raça, tamanho...Ia em cima como todo baixinho que tem mania de grandeza! Não mordia não, ia pra conhecer, tvz amar...Normalmente se dava mal qdo ia pra cima de um cachorro do mesmo sexo. É. Santo não era não! Bem, dos seus doze anos de vida, pelo menos os dez que nos deu (já tinha uns dois anos quando foi encontrado perdido na rua) foi de troca diária de afeto e ternura. Que destino! Fico pensando se os animais têm destino também. Dez anos depois se perdeu novamente. Será?
Bem, acho que seu instinto ainda estava bem presente. Na certa pulou a grade da porta pra ir atrás de algum cão que passava na rua, ou foi atrás de mim...Nunca vou saber!
O que sei é que ele me amou como sou e eu o amei como é, ou era.
Andava atrás de mim o tempo todo. Seu eu levantasse vinte vezes ele se levantava também, muitas vezes ficava em um cantinho bem apertadinho, só pra ficar encostado em mim. Dormia comigo, as viagens que fizemos juntos... Nem sei mais aonde guardo a saudade que dói demais. Não sei aonde encontrar mais espaço pra sufocar essa emoção. Se eu deixá-la escapar todos em casa sofrerão mais e talvez não encontre mais um lugar para procurá-lo e perca a esperança. Não. Desistir, Jamais! Tudo isso me ensinou que é preciso ter fé, aproveitarmos melhores momentos intensamente, mesmo que muitas vezes eles venham de lambidas, patinhas barulhentas atrás da gente, raspadelas na porta ou de um tranqüilo adormecer nos nossos braços.
Os bichos são amados e também são “Bicho que faz”! Nos fazem sentir importantes, amados, engraçados e felizes...Ah! Também abrem as portas da nossa criatividade fazendo a gente até escrever história! O Jow fez essa. Se ele não tivesse feito parte da minha, esta aqui não existiria. Obrigado amigo por participar dos meus melhores e piores momentos o que vale é que você é “Jowtromundo” aonde quer que esteja, te amo, te amo e...Amo-te pra sempre!

Elaine barnes 10/10/2002



Jow, devaneios e amor

Nos meus devaneios imagino seu sofrimento,
O quanto deve sentir minha ausência.
Tento afastar meu pensamento
O seu olhar assustado nessa experiência.

Quem te pegou na rua não sabe,
O quanto você está sofrendo.
Não imagina se quer, sua idade;
Quanto mais a saudade que tem dentro.

Queria tanto dizer a ela,
Que agradeço o cuidado em te recolher.
Nos devaneios estou indo abraçá-la,
Porque ela veio te devolver!

Por favor, não morra de tristeza,
Sinto medo porque é tão velhinho.
É especial, repleto de beleza.
Sabia que ganhamos muitos amigos?

Nos meus devaneios penso neles,
Agradecendo esse gesto de amor,
Sem conhecer-te buscam-te comigo,
No meu desespero viram seu valor!

Nos meus sonhos você aparece,
E desperto com esperança renovada,
Mas quando mais uma noite acontece...
Tenho você só nos devaneios, mais nada.

Elaine barnes 12/10/2002


Jow uma desumana ausência

Os girassóis pra contemplar o sol,
As sementes e a natureza também.
E eu tão ausente num farol...
Aguardo impaciente por alguém.

Meu olhar se perde em um quintal,
Na esperança de encontrar meu amigo,
E a passagem aberta no verde do sinal...
É o fechar do meu frágil abrigo.

Tanto amor, cuidado, zelo...
Ao meu companheiro tão presente,
Da porta aberta, um rastro, um apelo;
Um grito na garganta, parado, urgente.

Faixas e papeis balançam ao vento,
Nenhum sinal dele, só o farol no caminho.
A desumana ausência abrindo o silencio...
E a saudades fechando sua imagem comigo.

Os girassóis continuam o sol contemplar,
A natureza rogando respeito,
Alguém guardando o que vivo a buscar...
E um cãozinho perdido em meu peito.

As palavras se perdem feito os bichos,
As intenções se escondem em segredos.
Os anseios cumprem os mitos,
Onde a coragem dá lugar aos medos.

Não desistirei de você meu amigo!
És parte dos meus sonhos e lembranças.
Essa história não existiria sem esse destino,
Nem a lágrima no meu olhar de esperança.

Elaine Barnes
12/10/2002
Nunca o encontrei, nunca o esqueci! Encontrei muita gente boa nessa caminhada, protetoras de animais, pessoal de sites de cães perdidos, ajudei cães a encontrarem um lar e um em especial que foi perdido e confundido com o Jow, acabou ficando e me amando tb e outro dia conto mais...Quero ressaltar que algumas frases parecem sem nexo, mas, para mim tudo foi mexido na minha vida. Meu mundo caiu com o desaparecimento do Jow. Transformou minha vida para sempre! Hoje agradeço a ele todas as mudanças que se seguiram dentro do meu interior.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A Visita do Dr Tuc

Era uma manhã de terça –feira, cheia de sol.
No portão pousou uma ave enorme que eu não conseguia ver direito.

Era muito cedo e os raios de sol já invadiam minha sacada,esfreguei meus olhos sonolentos.
Peguei a maquina digital rapidamente e aproximei o foco. Vi um tucano fuçando no lixo.
Comecei a tirar as fotos, encantada feito uma menina.
A alegria que senti com essa surpresa foi à mesma de quando ganhei minha boneca Susi que tanto sonhara quando criança. Senti aquela plenitude infantil.

O meu corpo tremia de emoção e alegria.
O Tucano não contente voou até mim!
A maquina digital demorava a bater e não consegui pegar o vôo.
Ele veio retinho até a grade da sacada do meu quarto com suas imensas asas ,
Como se quisesse me abraçar.


Batia o bico fazendo muito barulho e me olhava como que a pedir algo pra comer.
Resolveu tomar um banho. Foi levantando uma asa de cada vez e se limpando.
Dava uma olhadinha pra ver se eu estava admirando.


Eu fotografava e o danado fazia poses. Um astro! O sol era coadjuvante, servia pra iluminar mais o seu colorido.
Meu cachorro latia desesperado, mas, ele não se assustava.
Tinha pose e classe. Foi aí que o apelidei de Dr Tuc .
Poderia ser “fanfarrão” também. Uma graça o jeito que se divertia com a minha cara.

Ficou aqui em casa bastante tempo. Tirei umas trinta fotos!Queria que ele ficasse pra sempre comigo, mas, como o "para sempre" não é todo dia, já dizia Oswaldo Montenegro... Ele anunciou que iria me deixar.

Dr Tuc olhou pra casa da vizinha, mirou as flores que enfeitavam o muro e se foi se misturando a elas até sumir.
Deixou saudades até onde meus olhos puderam alcançar e meu coração guardar essa visita tão carinhosa. Obrigada Dr Tuc, Volte sempre!
Elaine Barnes