sábado, 10 de outubro de 2009

Petróleo, um Negro Gato muito Especial

Uma família de cinco gatos apareceu no quintal da nossa clínica. Foram chegando com medo, mas, decididos a aproveitar o ambiente ensolarado e os telhados baixos por onde poderiam sair quando bem entendessem.
Todos os dias nos visitavam e é claro que começamos a alimentá-los. Vinham comer quando não havia ninguém por perto e ao entardecer partiam livres.
Com o passar do tempo um deles foi entrando na cozinha devagar e logo percebeu que foi aceito. Recebeu o nome de Petróleo. Negro de olhos verdes expressivos foi andando devagarzinho para conhecer a casa. Passou a vir pedir comida com miados baixos e delicados.
Acostumou-se a ficar dormindo na recepção e onde pudesse ter sossego para proteger-se do frio ou refrescar-se no calor.
Todo mundo se afeiçoou a ele.
Percebemos sua função terapêutica. Nossos clientes que muitas vezes chegavam estressados da rua, logo se acalmavam ao acarinhá-lo. Petróleo se acostumou a essa troca de afeto e convidou sua mãe a participar desse ambiente seguro e acolhedor. Da mesma forma ela foi entrando de mansinho e miando baixinho. Um pouco mais assustada. Linda a gata peluda e tigrada recebeu o nome de Tigreza e muito em breve seu caminhar delicado foi invadindo nosso caminho. Segurava nossas pernas no corredor e mostrava a barriga para ser coçada. Mais tarde banhava o Petróleo em lambidas e este correspondia devolvendo com carinho fechando os olhos de prazer.
A cena dali a pouco mudava para bofetadas e mordidas. Uma correria pela casa. Os tapetes ganhavam vida e se movimentavam entre esses tapas e beijos.
Num instante Petróleo e Tigreza tornaram-se as mascotes da clínica.
Bem íntimo na casa Petróleo começou a ficar “intelectual”; assistia às aulas de italiano, fazia terapia em grupo, aula de teatro, dança do ventre e logo as atividades da casa eram mais uma fonte de carinho.
Diferente, Tigreza gostava mais de entrar no armário onde sua comida estava, e de estar no meio dos expectadores a rolar pra lá e pra cá, brincando de se esconder nos tapetes e correr atrás do meigo e nobre Petróleo. Aquele belíssimo negro parecia causar-lhe inveja, então, ela fez uma amizade empolgante com o psicanalista. O cliente entrava na sala dele e ela também. Só havia um probleminha: ela é clausfóbica. Não pode ficar em ambientes fechados. Então mia para sair, sem querer impedir que façam sua terapia, porém... De porta aberta. Espera calmamente e assim que ele sai, agarra a perna dele e rola no chão. Sabe que isso dá “ibope”.
Petróleo seu inseparável companheiro sempre pagou o “pato” de sua revolta.Tiramos muitas fotos de suas brigas e “loves”.
De manhã os dois vinham tomar seu café acompanhado dos outros irmãos, filhos da Tigreza. Boquita um machinho tigrado de cara miúda com boquinha branca foi convidado a conhecer a casa por Petróleo. Ficamos parados para que não se assustasse, enquanto o anfitrião ia mostrando o caminho da sala. O “cara de pau” parecia dizer:
- Entre, a casa é nossa! O efeito terapêutico em todos foi maravilhoso. Demonstrações de afeto, emoções e histórias cheias de lembranças foram inspiradas pelos gatos.
Agora; a história deles para nós era um mistério. Sabíamos que uma senhora os alimentava diariamente na casa ao lado que estava vazia, mas, quando chegávamos à comida já estava lá. Quem seria ela?

Petróleo já se aninhava no colo e aceitava nosso carinho e a Tigreza, mesmo sem gostar de colo, demonstrava seu interesse com miados e a exposição de sua enorme barriga sem nenhum constrangimento, para se exibir às pessoas.
Durante cinco meses convivemos assim, nos respeitando, até que numa sexta-feira triste de primavera o Petróleo sumiu. Exatamente em vinte sete de setembro. Esperamos por ele durante três dias.
Depois anunciei na internet, mas ele não tinha registro e aí, um gato preto comum... Ficou difícil.
Fantasias e histórias passaram a circular pela clínica, todo mundo perguntava por ele e logo vinha à tristeza e mais questionamento.
Todo o dia eu chegava com a esperança de encontrá-lo tomando sol com os outros. A Tigreza sentiu muita a falta dele e passou a acariciar o Boquita, mas não era a mesma coisa. Sozinha ela começou a tomar conta da casa tentando preencher o vazio que o nosso mascote deixou.
Dando asas a imaginação, começamos a acreditar que ele foi vítima de algum ritual macabro. Afastávamos o pensamento para não sofrermos mais.
A vida foi seguindo sem Petróleo que ainda era o assunto já passados vinte dias; até que recebi um telefonema onde me informaram que a senhora que dava comida a eles, deixou ordem para minha funcionária da manhã que capturasse os gatos porque ela iria levá-los na sexta-feira logo cedo. Deixou até uma enorme casinha.Uma ousadia! Nem se quer ouviu que cuidávamos deles.
Entre muitos telefonemas e conversas finalmente descobrimos que o Petróleo fora levado por ela. Um pânico nos invadiu:
- Será que ela os colecionava para vendê-los a rituais?
Traçamos um plano para descobrir quem ela era e resgatar o Petróleo se ainda estivesse vivo.
Tínhamos dois dias. Fizemos coleiras com improvisadas plaquetas, mas, só conseguimos colocar na Tigreza e no Boquita. Minha amiga não saía do telefone procurando quem pudesse nos ajudar com os registros e eu da internet procurando protetoras de animais e veterinários que pudessem vir aqui. Um caso de novela.
Não conseguíamos dormir. Como poderíamos perdê-los assim?
Lembrava-me do meu poodle que havia sumido sem registro, sem nenhuma identificação e eu ainda não o tinha de volta por conta disso. Uma dor seguida de imaginações me levava mais do que nunca não deixá-los ir sem saber pra onde e com quem.
Não suportaria. Combinamos estarmos na clínica sexta de manhã e fazermos àquela senhora entrar e nos explicar tudo. Arrumamos o gravador e máquina fotográfica. Pediríamos que preenchesse um cadastro e se ele estivesse vivo iríamos buscá-lo onde estivesse.
As informações chegaram. O Petróleo estava vivo!
Disseram que estava em um sítio. Aliviadas decidimos que iríamos descobrir o endereço.
Outra informação chegou, ele havia sido mordido por um cão.
Ficamos em dúvida novamente. A senhora que era conhecida no bairro por alimentar os animais, hora falava que era do bairro, hora que era de muito longe. Sendo assim porque viria alimentá-los ali? Um mistério. A sexta feira chegou e ela veio no horário que havia marcado. Um pouco resistente se apresentou e eu tentei da melhor maneira possível respeitá-la e saber o que realmente fazia com os gatos. A máquina e o gravador ficaram na cozinha. Consegui que me desse seu endereço e ela de pronto atendeu. Morava na rua de trás e uma história triste começou a se desenrolar quando minha amiga chegou. Descobrimos que se tratava de uma humilde senhora que tirava de si para dar aos animais de rua. Comecei a entender que havia um desequilíbrio em tudo, mas, o que me interessava naquele momento era ter o Petróleo de volta.
A senhora disse que ele estava praticamente ao nosso lado, na mesma rua. Deu-me o nome e telefone da outra senhora que estava com ele e avisou-me que seria difícil ela devolvê-lo, pois ele havia sido mordido por um cão e assim levado ao veterinário para ser medicado e castrado. Adiantou que a pessoa tinha um gênio difícil e que precisaria falar com ela antes.
Mil coisas passavam por minha cabeça e tentando manter o controle, disse-lhe que o gato era nosso e que ela iria devolver sim. Ficou de voltar à noite para levar-nos lá.

O dia foi seguindo tenso. Com o mistério que ainda pairava no ar. Será que ele ainda estava vivo? Será que o substituiriam por outro gato preto? Estava num sítio ou ali?
Embora tenhamos acreditado em quase tudo, sentia-me culpada por ter pensado mal daquela senhora sofrida.
A noite parecia se esconder e preguiçosa não chegava nunca. Nossa energia parecia esgotada e sentíamos o peso da responsabilidade dos nossos atos.
Quase vinte horas quando finalmente ela chegou. Ufa!
Minha amiga, eu e a senhora franzina fomos de carro até lá. No hall do prédio percebemos um código entre a senhora sofrida e o zelador. Falavam por olhares apavorados. O zelador nos abriu o elevador rapidamente, mas, com um sorriso de dever cumprido.
O cheiro misturado com desinfetante ultrapassava a porta do apartamento. Assim que apertou a campainha uma senhora oriental apareceu. Fomos entrando com a casinha entre os olhares inexpressivos e cansados das duas protetoras. Minha amiga e eu ficamos paradas e a porta imediatamente foi fechada atrás de nós. De repente a sala antes vazia foi sendo invadida por gatos que vinham de todos os cômodos. Parecia que estávamos entrando na cena de um filme. Como fosse aquele momento irreal, como fosse imaginação... Como fosse uma triste história de clausura.
Petróleo aproximou-se e abaixei-me para que cheirasse minha mão; assim que me reconheceu os gatos invadiram e ele se perdeu no meio de tantos. Logo tinha uns vinte e cinco ou trinta gatos na sala. Lindos e maravilhosos. Em choque, por um momento o perdi e me apavorei com medo de levar gato errado. Minha amiga tentava conversar naturalmente com elas enquanto eu passava a mão nos pretos idênticos a ele para tentar encontrar diferenças.
Persas, Angorás e SRDS encantadores tomavam toda a cena.
A casinha que levamos caiu da cadeira o barulho os assustou e sumiram. As senhoras entreolharam-se nos recriminando pela falta de cuidado. Devagar eles começaram a voltar para sala. Passei a mão num gato preto e respirei aliviada por ele ter o rabo defeituoso. Uma outra deitada sobre um buffé era fêmea, e assim mais uma vez Petróleo se aproximou com um olhar agradecido por eu estar ali. Dentro daquela viagem percebemos que a senhora oriental não queria doá-los. Eles faziam parte de seus instintos aprisionados. Eram como uma coleção de selos ou moedas raras. Ela os amava como uma extensão de si mesma e acreditava realmente que os estava ajudando. Nos pediu que não contássemos a ninguém, pois, já havia sido processada.
Começamos a sufocar ao imaginar que os lindos bichanos estariam aprisionados para sempre com ela em um apartamento. Numa vontade louca de libertá-los, colocamos Petróleo dentro da casinha, quando ela olhou pra ele triste, como se estivéssemos arrancando parte dela e disse:
- Viu, você ficava na janela querendo me deixar... Agora você vai. Era isso que queria, não? Então pode ir.
Olhei pra ela com ternura e entendi o que sentia.
Chegamos na clínica onde éramos esperadas. Abrimos a portinhola e ele olhou direto para o chão reconhecendo o tapete onde deitava e brincava com a Tigreza, sua felicidade ficou estampada nas cadeiras, nas mesas e em todos os cômodos que fez questão de entrar e roçar os bigodes.
Olhava tudo devagar como se quisesse que aquele momento durasse para sempre. Acarinhou as pessoas e abrimos a porta da cozinha onde a claustrofóbica Tigreza miava desesperada para entrar. O encontro foi fotografado. Um beijo carinhoso entre mãe e filho é sempre bonito. Mesmo sabendo que os animais esquecem esses vínculos, aquele momento foi especial para todos nós.
Era como se tivéssemos também encontrando a liberdade de simplesmente estar onde queremos. Emocionados fomos atrás dos dois. Tigreza o levou para a sala do psicanalista, seu lugar preferido. Deitou-se e esperou ser acariciada. Petróleo lavou-lhe toda a carinha e ela de olhos fechados levantou ainda o pescoço para que o banho fosse completo. O negro gato mal havia terminado e já levou um tapa daqueles pra aprender a não se aproximar de cães bravos; e tudo recomeçou...
Fomos embora acreditando que ele estaria ali no dia seguinte.
As informações de uma protetora de animais consciente chegaram até mim. Não basta alimentar os animais na rua, é preciso vaciná-los, registrá-los e castrá-los, porque uma cadela não castrada gerará através de seus descendentes, cerca de sessenta mil filhotes em apenas seis anos; quanto aos gatos, este número salta para quatrocentos e vinte mil novos animais. Cadelas se reproduzem a cada seis meses e gatas a cada três.
Simbolicamente o gato representa o feminino e o cão o masculino. Trabalhando há alguns anos na clínica de psicologia, aprendi um pouco sobre a força do símbolo e não gostaria de castrar um animal, mas, diante da morte deles nas ruas, sacrifícios e maus tratos,
Entendi com pessoas como ela, que somos responsáveis por tudo isso. Assim como à senhora oriental está aprisionada com o seu feminino, é preciso que nós o libertemos com a consciência do que eles representam pra cada um.

Agora adotamos de verdade os cinco felinos. Somos responsáveis por eles. Foi preciso que o Petróleo nos ensinasse que o amor implica em atitude e responsabilidade. Nunca iremos prendê-los!
E olhando os cinco felinos tomando seu banho de sol no quintal, lembro-me dos Saltimbancos:
- “Nós gatos já nascemos pobres, porém, já nascemos livres...”
----------------------------
Elaine Barnes
20/10/2002

Nota: Essa história foi enviada para revista "Pulo do Gato" pela presidente do MICA ,Sra Maria José e publicada na edição 13 no final de 2002. Para eu postar aqui, sinto informar que as fotos deles ficaram na clínica que hoje não é mais minha. As fotos usadas aqui são de animais muito parecidos tiradas do site "Olhares". Logo depois que sai de lá, fiquei sabendo que a Tigreza morreu, chorei demais! O Petróleo ainda está vivo e a pouco tive notícias que ele abandonou a clínica. Para mim, foram momentos de troca de amor inesquecíveis. Os amo no coração.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Um Pacto de Amor

Na foto minha filha Michelle com o Flic

Nas minhas andanças procurando meu poodle toy desaparecido em setembro de 2002, um veterinário me ligou (eu havia anexado oitenta folhas de "procura-se" em dezenas de estabelecimentos), ele dizia que haviam encontrado um poodle na rua Pedro Doll e que estava na rua de cima ao lado da clínica.
Fui correndo e subi as escadas daquela casa com o coração na boca.
Quando a senhora que o encontrou abriu a porta, viu meus olhos encherem de lágrimas.
Não era o meu velhinho Jow. Mesmo assim o peguei no colo, como para que sentir o calor de um cãozinho novamente. Ele se aninhou como que querendo que eu aproveitasse ao máximo aquele momento.
Ouvi toda história dele com atenção. A adorável senhora pediu que eu ficasse com ele, pois o levariam para uma chácara e ficaria com caseiros se eu não o adotasse.


Senti uma mistura de medo com traição. Era como se eu tivesse traindo o Jow.
Pedi umas horas pra pensar. Ela me explicou que não poderia ficar com ele, pois tinha mais três cães ciumentos, por isso já tinha combinado com uma cliente do salão de beleza dela pra levá-lo no dia seguinte para a chácara.
Eram 21:00h, peguei o carro e sai para pensar, os flashs dos faróis passavam por mim como partes de um filme que rodava em minha mente. Queria tanto que ele fosse o Jow!

Ao mesmo tempo a preocupação com a família. Será que o aceitariam? Por quê eu? Por que dez anos depois a história se repetia?
O Jow foi encontrado por uma mulher que nos ofereceu. Ouve na época da minha parte, a mesma resistência que sentia agora Ele tinha a mesma idade, aproximadamente dois anos e meio na época. Pensava eu que as coincidências não existem. Tudo tem um porque.

Voltei pra casa e coloquei a situação. Minhas filhas concordaram de pronto e pediram que eu fosse buscá-lo. A saudades do Jow era demais, doía em todas nós.
Fizemos então um pacto com o universo: “Ele nos devolveria o Jow e eu faria o possível pra reencontrar o dono deste cãozinho tão assustado”. O dono verdadeiro dele deveria estar como eu. Desesperado!
Ele entrou na minha casa e correu feito louco querendo ir embora, fugir dali. Imaginei o meu velhinho assim, aflito querendo voltar pra casa, voltar pra mim .
Minha angústia aumentou.
No dia seguinte comecei a romaria para encontrar seu dono. Fiz panfletos, anunciei nos sites, fui na Pedro Doll com ele pra ver se entrava em alguma casa, anunciei em jornais e nada.

O tempo foi passando. Ele chegou no dia 30/10/2002 e por um bom tempo ficou sem nome.
As semelhanças eram muitas e as diferenças também. As comparações foram se tornando frequentes à medida que o tempo caminhava. Podia ver no seu olhar a mesma busca de afeto, o mesmo carinho pra oferecer. A mesma fidelidade e disposição pra amar independente de qualquer situação. Os mesmos gestos abertos de ternura. Na verdade ele era a imagem viva do Jow em nosso coração. O caozinho era esperto e dinâmico, engraçado demais! O Jow era mais calmo e sobão,rs...Ainda sentíamos como que traindo o nosso velhinho se déssemos um nome pra ele . O medo de ama-lo nos traria mais dor o vendo partir também.
O jovem cãozinho muito parecido nunca encontrou seu antigo dono.

Demos a ele o nome de Flic.
Continuei desesperadamente procurando meu Jow, mas, acho que ele gostaria de ter esse jovem companheiro e amigo na casa. Flic jamais substituirá o velhinho, mas, como o amor é eterno e abundante demos a ele também, tínhamos amor de sobra.
Sua adoção nos fez sorrir novamente. Inteligente , demonstrou personalidade própria , aprendeu a “dançar” em três dias e a andar em pulinhos em pezinho fazendo um “cirquinho”.
Dá-me bom dia todos os dias com várias lambidas nas orelhas e me acompanha pela casa alegre por ter um novo lar.
Expressa em seu olhar gratidão.
Tudo aconteceu em vinte e quatro dias desde o desaparecimento do velhinho.

Apesar da minha saudade e intensa dor, espero que a pessoa que o pegou cuide e ame aquele doce velhinho como eu cuido desse jovem “rapazinho”, até que o universo tenha tempo pra colocar cada coisa no seu lugar e avaliar meu pacto de amor.
A natureza é sábia e tenho muito a aprender com ela. Nascemos e morremos todos os dias para que a nossa história se renove e possamos aprender a expressar emoções que tentamos esconder de nós mesmos, para fingir que não sofremos, então ,ela nos tira o que amamos não por mal, mas, para que aprendamos a não morrer em vão. A renascer no amor. Obrigada Jow, Flic, natureza, amigos, saudades, amor, tristeza, alegria...

Elaine Barnes 13/10/2002
Na foto minha filha Monique com Flic e Raj Annanda Ganesha(meu gato com um olho amarelo e outro azul)

Nota da autora: Hoje sete anos depois, sei que ele (era cardíaco)não vive mais a não ser no meu coração. O meu pacto de amor não me devolveu o Jow,mas, fez o meu amor amadurecer e se tornar mais abundante. O Flic tb está velhinho já com uns nove anos e meio proximadamente. Ainda dança e faz cirquinho quando chego em casa e me ama muito. Somos ambos muito gratos um ao outro. Ainda tem os poeminhas dele que logo postarei aqui. O universo fez um pacto comigo levou meu amigo e me trouxe a gratidão.

Elaine Barnes 5/10/2009

domingo, 4 de outubro de 2009


A Busca do meu Bicho

Perco meu bicho e esqueço o processo.
Esqueço de respirar e puxo o ar.
Perdi a alegria e esqueci o resto.
Encontrei a mim numa lágrima a esperar

Perco meu bicho e o afeto
Onde será esse lugar?
A busca é um manifesto,
De que perder, é se encontrar?

Se procurar meu bicho é o certo,
Não sei mais onde procurar
Espero um sinal, um gesto...
Pra que eu possa descansar

Não sei o que deseja o universo.
Só sei que os bichos sabem falar,
O meu ensinou-me que no inverso,
O silêncio faz meu grito calar.

Um momento nas linhas desse verso!
Meus bichos estão soltos no ar...
Posso ouvi-los inquietos...
E uma só alma a chorar!

Aprender...Aprender é um processo,
Onde a busca é se encontrar
Desapegar... Perder... É indigesto.
Não saber é sofrer e esperar.

5/10/2002



Porque ele é...”Jowtromundo”

Apaixonante e apaixonado. Doce e sossegado...Não era muito de brincar, mas...De encantar.
Seu jeito meigo de ser, tão especial, fazia que eu pensasse sobre os santos.
Se cachorro pudesse virar santo, ah...O Jow seria!
Se bem que...Talvez não. Ele sempre perdia a compostura se visse outro cão.
Os instintos apareciam e ele se transformava em um selvagem. É. Não via cor, raça, tamanho...Ia em cima como todo baixinho que tem mania de grandeza! Não mordia não, ia pra conhecer, tvz amar...Normalmente se dava mal qdo ia pra cima de um cachorro do mesmo sexo. É. Santo não era não! Bem, dos seus doze anos de vida, pelo menos os dez que nos deu (já tinha uns dois anos quando foi encontrado perdido na rua) foi de troca diária de afeto e ternura. Que destino! Fico pensando se os animais têm destino também. Dez anos depois se perdeu novamente. Será?
Bem, acho que seu instinto ainda estava bem presente. Na certa pulou a grade da porta pra ir atrás de algum cão que passava na rua, ou foi atrás de mim...Nunca vou saber!
O que sei é que ele me amou como sou e eu o amei como é, ou era.
Andava atrás de mim o tempo todo. Seu eu levantasse vinte vezes ele se levantava também, muitas vezes ficava em um cantinho bem apertadinho, só pra ficar encostado em mim. Dormia comigo, as viagens que fizemos juntos... Nem sei mais aonde guardo a saudade que dói demais. Não sei aonde encontrar mais espaço pra sufocar essa emoção. Se eu deixá-la escapar todos em casa sofrerão mais e talvez não encontre mais um lugar para procurá-lo e perca a esperança. Não. Desistir, Jamais! Tudo isso me ensinou que é preciso ter fé, aproveitarmos melhores momentos intensamente, mesmo que muitas vezes eles venham de lambidas, patinhas barulhentas atrás da gente, raspadelas na porta ou de um tranqüilo adormecer nos nossos braços.
Os bichos são amados e também são “Bicho que faz”! Nos fazem sentir importantes, amados, engraçados e felizes...Ah! Também abrem as portas da nossa criatividade fazendo a gente até escrever história! O Jow fez essa. Se ele não tivesse feito parte da minha, esta aqui não existiria. Obrigado amigo por participar dos meus melhores e piores momentos o que vale é que você é “Jowtromundo” aonde quer que esteja, te amo, te amo e...Amo-te pra sempre!

Elaine barnes 10/10/2002



Jow, devaneios e amor

Nos meus devaneios imagino seu sofrimento,
O quanto deve sentir minha ausência.
Tento afastar meu pensamento
O seu olhar assustado nessa experiência.

Quem te pegou na rua não sabe,
O quanto você está sofrendo.
Não imagina se quer, sua idade;
Quanto mais a saudade que tem dentro.

Queria tanto dizer a ela,
Que agradeço o cuidado em te recolher.
Nos devaneios estou indo abraçá-la,
Porque ela veio te devolver!

Por favor, não morra de tristeza,
Sinto medo porque é tão velhinho.
É especial, repleto de beleza.
Sabia que ganhamos muitos amigos?

Nos meus devaneios penso neles,
Agradecendo esse gesto de amor,
Sem conhecer-te buscam-te comigo,
No meu desespero viram seu valor!

Nos meus sonhos você aparece,
E desperto com esperança renovada,
Mas quando mais uma noite acontece...
Tenho você só nos devaneios, mais nada.

Elaine barnes 12/10/2002


Jow uma desumana ausência

Os girassóis pra contemplar o sol,
As sementes e a natureza também.
E eu tão ausente num farol...
Aguardo impaciente por alguém.

Meu olhar se perde em um quintal,
Na esperança de encontrar meu amigo,
E a passagem aberta no verde do sinal...
É o fechar do meu frágil abrigo.

Tanto amor, cuidado, zelo...
Ao meu companheiro tão presente,
Da porta aberta, um rastro, um apelo;
Um grito na garganta, parado, urgente.

Faixas e papeis balançam ao vento,
Nenhum sinal dele, só o farol no caminho.
A desumana ausência abrindo o silencio...
E a saudades fechando sua imagem comigo.

Os girassóis continuam o sol contemplar,
A natureza rogando respeito,
Alguém guardando o que vivo a buscar...
E um cãozinho perdido em meu peito.

As palavras se perdem feito os bichos,
As intenções se escondem em segredos.
Os anseios cumprem os mitos,
Onde a coragem dá lugar aos medos.

Não desistirei de você meu amigo!
És parte dos meus sonhos e lembranças.
Essa história não existiria sem esse destino,
Nem a lágrima no meu olhar de esperança.

Elaine Barnes
12/10/2002
Nunca o encontrei, nunca o esqueci! Encontrei muita gente boa nessa caminhada, protetoras de animais, pessoal de sites de cães perdidos, ajudei cães a encontrarem um lar e um em especial que foi perdido e confundido com o Jow, acabou ficando e me amando tb e outro dia conto mais...Quero ressaltar que algumas frases parecem sem nexo, mas, para mim tudo foi mexido na minha vida. Meu mundo caiu com o desaparecimento do Jow. Transformou minha vida para sempre! Hoje agradeço a ele todas as mudanças que se seguiram dentro do meu interior.