quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A Visita do Dr Tuc

Era uma manhã de terça –feira, cheia de sol.
No portão pousou uma ave enorme que eu não conseguia ver direito.

Era muito cedo e os raios de sol já invadiam minha sacada,esfreguei meus olhos sonolentos.
Peguei a maquina digital rapidamente e aproximei o foco. Vi um tucano fuçando no lixo.
Comecei a tirar as fotos, encantada feito uma menina.
A alegria que senti com essa surpresa foi à mesma de quando ganhei minha boneca Susi que tanto sonhara quando criança. Senti aquela plenitude infantil.

O meu corpo tremia de emoção e alegria.
O Tucano não contente voou até mim!
A maquina digital demorava a bater e não consegui pegar o vôo.
Ele veio retinho até a grade da sacada do meu quarto com suas imensas asas ,
Como se quisesse me abraçar.


Batia o bico fazendo muito barulho e me olhava como que a pedir algo pra comer.
Resolveu tomar um banho. Foi levantando uma asa de cada vez e se limpando.
Dava uma olhadinha pra ver se eu estava admirando.


Eu fotografava e o danado fazia poses. Um astro! O sol era coadjuvante, servia pra iluminar mais o seu colorido.
Meu cachorro latia desesperado, mas, ele não se assustava.
Tinha pose e classe. Foi aí que o apelidei de Dr Tuc .
Poderia ser “fanfarrão” também. Uma graça o jeito que se divertia com a minha cara.

Ficou aqui em casa bastante tempo. Tirei umas trinta fotos!Queria que ele ficasse pra sempre comigo, mas, como o "para sempre" não é todo dia, já dizia Oswaldo Montenegro... Ele anunciou que iria me deixar.

Dr Tuc olhou pra casa da vizinha, mirou as flores que enfeitavam o muro e se foi se misturando a elas até sumir.
Deixou saudades até onde meus olhos puderam alcançar e meu coração guardar essa visita tão carinhosa. Obrigada Dr Tuc, Volte sempre!
Elaine Barnes

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Xabunga o cão filho da chuva


Chovia muito na noite que ele apareceu. Ninguém viu.
Muito sujo e sarnento deitou-se na garagem e dormiu.
Pela manhã a bisavó se surpreendeu com um cão no quintal.
A chuva tinha ido embora e seu pelo loiro brilhava com os primeiros raios de sol.
Bem, na verdade só as orelhas, porque só elas estavam limpas.
Ah! Também havia um brilho em seus olhos cor de mel.
Abanou o rabo, esticou o corpo espreguiçando e disfarçando virou de barriga pra cima como a admirar o céu.
Como quem nada quisesse, satisfeito, levantou para dar uma voltinha no terreno e lapt!
Levou vassourada. Era a bisavó desesperada:
-Sai cachorro! Gritava
O coitado baixou o rabo e não entendeu porque a velhinha estava tão brava.

No mesmo terreno tinha três moradias e uma pequena fábrica onde trabalhava o Sr Edu com mais um empregado. A família era unida, ocupavam três casas, Uma era virada pra uma rua de cima e as outras pra baixo em uma viela, mas, não tinham cachorro, a não ser um papagaio e um montão de gatos que viviam livres entre as casas e o quintal de terra do enorme do terreno.
Seu Edu chegou pra trabalhar e também não quis saber, espantou o cão com pedrada.
-Sai cachorro, passa!
O cão deu uma corrida e parou no portão olhando as pedras que passavam rente a ele. Como a indagar:
- Mas acabei de chegar e me recebem assim?
Não foi embora, deu meia volta, deitou no chão e se pos com as quatro patas pra cima.
Vai que cheio dessa pose, chamava a atenção! Que nada, veio mais pedrada!
Deu uma voltinha pela rua indignado. Voltou beirando o muro deixando sujeira. De fininho com os olhos caidinhos foi entrando no quintal de novo. Seu Edu com raiva esbravejava, espantava o cachorro e ameaçou bater.
Dona Irina mãe de Edu acordou assustada, vestiu um penhoar, as chinelas e saiu pra ver o que acontecia.
-Ah, bate nele não, coitado!
O cão gostou. Sentiu naquela senhora uma aliada.
Deitou-se com cara de dó embaixo da goiabeira e ali ficou com olhar de bicho de goiaba.
O pessoal foi aos seus afazeres e esqueceram dele. A noite chegou e o cão saiu pela rua a revirar os lixos. Voltou e dormiu. Dia seguinte, mais pedrada. Uma judiação!
A bisavó espantava o cão com vassourada. Lapt!
Ele saia e voltava pra ver se o povo tinha se acalmado. Entrava de fina como quem não quer nada. Só queria carinho mesmo.Ficar ali.
Então desistiram. Já estavam achando que era coisa de Deus. Seu Edu foi à farmácia comprar remédio pra sarna. O cão o acompanhou. O Seu Beto farmacêutico se assustou: --Êpa! Não tem cura não! Isso é sarna preta!
Seu Edu chegou bravo em casa e contou a história, então Carminha sua mulher que amava os animais falou:
- Deixa que eu cuido dele. Pra tudo se dá um jeito!
Carminha foi passando enxofre, óleo de carro queimado, desinfetante...
O bichinho foi ficando mais imundo ainda.
Uma grande amizade foi surgindo com a família. As filhas do casal. Marita e Carlinha corriam com ele pelo quintal. Deram-lhe o nome de Xabunga. Nome de um antigo cachorro que seu Edu teve quando era mais moço e havia contado pra elas.
O danado esperava na porta da cozinha da Dona Irina uma tigela de comida. No começo era pequena, mas, depois já era uma bacia. Xabunga comia demais!
Foi ficando confiado. Qdo via alguém da família parado, papeando, lá vinha ele, deitava em cima dos pés da pessoa e virava de barriga pra cima. Distraidamente, tiravam um dos pés debaixo dele e passavam em sua barriga coçando enquanto a conversa seguia seu rumo.
Era um cara de pau! Ele adorava isso. Viciou. Ficava ali se deliciando com a coçada.
O tempo foi passando e vieram as chuvas.
Xabunga dormia no quintal coberto, ganhou uma casinha. Quando ele ouvia a chuva no telhado. Saia correndo e ganhava a rua. Seguia até os caninhos de escoamento de água que saia das sacadas das casas.Como se fossem torneiras. Parava embaixo e tomava aquele banho de chuva.
As pessoas da rua que se abrigavam nos estabelecimentos: bares, farmácias, salões de beleza... Observavam o cão tomava banho embaixo dos canos e depois corria por todo lugar ensopado.
Ficou conhecido e famoso!
Depois de tanto remédio, ninguém soube dizer qual foi que o curou. Seu pelo loiro renasceu e Xabunga sarou.
D Carminha então resolveu dar um banho nele. Parece que pressentiu. Começou andar de marcha ré, como se tivesse lido os pensamentos dela e correu lá pra cima onde ficava a fabriquinha do seu Edu. D. Carminha avisou Paulinho o empregado, que Xabunga precisava tomar banho e havia fugido dela. Paulinho então colocou uma bacia de comida como chamariz e quando Xabunga veio comer, devagar foi amarrando uma corda comprida na coleira o enquanto o cão comia rosnando. Depois da corda amarrada conseguiu arrastar o cachorro até lá embaixo no quintal da casa. Foi um alvoroço! Pode uma coisa dessas? Um cão que mais parecia ser filho da chuva e tinha medo de banho?
Foi amarrado no portão. Um calor que Deus mandava! Quando viu a mangueira de água jorrando ficou desesperado. D. Carminha foi firme. Com muito sabão e uma escova foi domando Xabunga. Era muito óleo e sujeira naquele pelo. Ficou branco de espuma.
Paulinho ajudou. Foi logo puxando conversa, falando que o cão estava famoso, que quando ele passava pra ir ao bar buscar suco ou pão. Xabunga o acompanhava e as pessoas da rua iam apontando e comentando; - “Ele gosta da chuva em moço!”.
Depois do banho correu que nem louco pelo quintal e como vingança foi se sujar na terra do quintal!
Ele também acompanhava as meninas Marita e Carlinha até a escola. Elas adoravam! Sentiam-se protegidas e também gostavam quando ele era apontado por gente que elas nem conheciam direito. Parecia um astro ele!
Depois que ele ficava conhecendo as pessoas que costumavam freqüentar a fabrica; que paravam ali com seu Edu pra papear ou tomar um cafezinho. Se estivessem a pé, também acompanhava o pessoal até suas casas; mas, sempre voltava.
Depois da chuva então, Parece que ele sabia que iriam brigar com ele. Entrava no quintal mancando. D. Carminha falava com ele com dó.
“Oh meu bichinho, ta com reumatismo? Dói a sua perna menino. Oh dó viu!”.
Pronto. Bastou! Ele entendeu que ganhava um afeto. Toda vez que tomava chuva voltava mancando o esperto!
Nem todo mundo gostava dele, estava sempre sujo e algumas pulgas também faziam parte dele, tinha um jeito carente. Sua vida era livre, aceitava carinho, casinha, mas, não corrente.
Gostava de deitar nos pés das pessoas e ser coçado. Com as quatro patas pra cima olhava como que agradecendo aquele carinho.
O pessoal se acostumou com ele. As crianças em tê-lo nas brincadeiras. Roubava os brinquedos, deitava com o queixo em cima e não devolvia. D. Carminha era sempre chamada para distraí-lo e pegar o brinquedo com muito jeitinho.
Xabunga não podia passar da porta pra dentro e não entendia porquê a gata podia.
Ficava ali olhando na porta de vidro, a família reunida com a gata deitada na sala. Seu olhar era de agradecimento pela acolhida. Tinha boa comida em duas casas, mais a comida que sobrava do Paulinho, tinha casinha quentinha, quintal de terra, crianças, carinho e liberdade.
É sim. Seus olhos cor de mel traziam gratidão!
Ficava com as orelhas em pé, enquanto a gata passeava, se exibindo pela sala.
Nunca a atacou, respeitava aquela velha senhora que já estava há muitos anos na família.
Xabunga tinha grande responsabilidade. Ao menor barulho. Avisava.
Se estivesse molhado, mancava. Não esquecia. Impressionante!
Foi ficando mimado. Tinha três restaurantes pra comer. Ficou gordo. Até o açougueiro dava osso pra ele. Conquistava as pessoas o danado.
A vizinhança já o adotara também. Acompanhava todo mundo e tomava conta de todas as casa da vila.
O tempo foi passando e ele foi ficando abusado. Às vezes D. Carminha dormia no sofá com o braço pra fora. Ele ia entrando de mansinho e enfiava a cabeça embaixo da mão dela forçando um carinho. Ela acordava assustada e ele com aquele olhar pidão de dó mesmo. Saia de fininho.Fingindo vergonha.
Depois de um ano de muita história, em uma de suas noitadas descontraídas de liberdade. O loirinho esperto foi traído. Um carro o atropelou. Vieram chamar em casa Sr Edu pra salvá-lo. Dona Carminha nem quis subir. Seu Edu correu e o pegou. Tarde demais, ali não batia mais um coração.
Xabunga deixou a família, amigos, vizinhos e foi dar uma voltinha lá no céu. Quem sabe encantar os anjos com seus olhos cor de mel!
Deixou saudades. O seu corpo ainda estava no quintal, quando uma chuva fina foi caindo. Queria também se despedir do amigo tão fiel.


Elaine Barnes 22/07/1993


terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Mulher da Cobra




Vou te contar! Ninguém atende telefone nesse país!?
Uma parte da minha conta telefônica veio sem data e horário e me cobraram uma nota!
Ligo lá na operadora e ninguém atende.
Quero falar no convênio e também não atendem.
Ligo na zoonose... Nada!
Tem um matagal aqui ao lado de casa e o dono é um delegado.
É. O safado é dono do terreno e não manda limpar!
Outro dia apareceu uma aranha enorme aqui.
Outro uma cobra d’agua passeava tranquila pelo quintal.
Os feirantes é que vieram pegar.(Tem feira aqui na porta de casa)
Trouxeram uma garrafa pet cortada e capturaram a coitada.
Colocaram água e ficou exposta na feira.
E eu! Fiquei conhecida como a mulher da cobra.
É mole?
Ligo na zoonose...Nada!


Elaine Barnes


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Se não era fantasma, era muito parecido


Será que existe fantasma de gatos?
Criei um gato por sete anos. Chamava-se Harry Potter.
Quase morreu várias vezes, mas, cuidado daqui e dali ficava bom. Renascia das cinzas como uma fênix! Eu o chamava de “gato” ele respondia em miados curtos, brincava com o cachorro. Era bonito ver a amizade deles! Companheiros mesmo.
Pelo negro e brilhante, parecido com um puma em miniatura, personalidade forte; de vez enquando mordia, mas, muito engraçado o negão. Dava até uma “canja” pra gente quando pedíamos pra ele dar uma “roladinha”, aí se exibia, rolava pra lá e pra cá. Sabia que dava Ibope.
Adoeceu de novo, quase morreu. Ficou tonto, não andava, ninguém sabia o que era.
Dessa vez achei que ia. Depois de quinze dias o quadro mudou, achei que piorou e pra minha surpresa veterinária Dra Tereza falou que ele estava bem melhor e que agora o problema era ouvido, só. Tomou uma injeção da boa e pronto! Depois de um mês morre não morre, ficou bom! Sete vidas. Curadinho, já brincando por tudo. Estava novinho em folha. Recuperado! Achei que agora estaria tudo em ordem, o bichano saudável e feliz com a gente.
Que nada! Depois de uma semana de curado. O vi deitado nos degraus lá de fora. Achei estranho, estava garoando e ele não dormiria na chuva. Fui até lá, miou doído.Atropelaram ele! Corremos para o hospital veterinário. Não teve jeito. Trouxe pra casa, o ajeitei e rezei muito.De manhã sua alma partiu.Morreu. O enterro foi triste, plantamos flores e só nos restou chorar. Perdemos um grande amigo.
Minha vida entornou. Mês de agosto. Gato morto.Dois mil e oito.
Ia comprar uma casinha. Estava feliz demais. De repente a proprietária resolveu que não ia mais me vender. Aumentou o preço e tudo. O sonho não foi dessa vez.
O cachorro triste e eu também. Puxa, difícil chegar em casa e não ver aquela “roladinha” do gato preto. Sou corretora de imóveis e as vendas também começaram abrir e nada mais dava certo. Rezava e trabalhava mais. Um monte de traições no ar. Coisas escondidas, falsidades. Aí era eu e o cachorro meio perdidos. Tristes mesmo. Que vida. Ninguém merece!
Então. Eu sabia que o gato representava o feminino. Tinha só esquecido.
Uma amiga me lembrou. Caraca! Meu feminino foi atropelado?
Tentei um namoro também. Não deu certo. Começou e terminou em agosto.
Nunca mais! A libido adormeceu. Será que meu feminino morreu?
Cansei. No corre, corre da vida profissional, só decepção! Costumo dizer agora na brincadeira que sou “corredora de imóveis”. Haja perna, haja fé!
Depois de cinco meses apareceu um gatinho todo branco. Um olho azul outro mel. A dona tinha uma ninhada e não podia cuidar. Fui lá e escolhi. Adotei. Um novo “feminino”.
Por causa da novela coloquei o nome de Raj ou Rhadji.
Demorei quinze dias pra achar um nome. Lindo ele!
Ontem ele fez seis meses e comigo está a um mês.
Meu feminino agora é branquinho com um olho de cada cor. Carinhoso, engraçado, veloz...Meigo e não morde, não me arranha. Espera-me na porta e fica feliz quando chego em casa.
Estranho o que houve ontem! Cheguei de madrugada do aniversário do sobrinho e lá de cima (minha casa é abaixo do nível da rua) da minha garagem, vi um gato preto sentado em frente a minha porta de entrada. Olhando pra porta como que esperando alguém abri-la pra entrar. Coloquei o carro na garagem e fiquei intrigada. Assim que comecei a descer as escadas ele se levantou e saiu atropeladinho. Ferrado mesmo. Manco e torto. Andei mais depressa e comecei a chamar o gato tssss,tssss... Sumiu!
Juro que pensei que era o fantasma dele. Harry Potter. Sei lá, pensei nele. Coisas do mistério, sinais, não entendi a simbologia. Meu lado feminino virou ghost? Que tava aqui estava sim!
Será que existe espírito de gatos? Fantasmas bichanos?
Se alguém souber me conte!
Elaine Barnes
15/02/2009